quinta-feira, 29 de julho de 2010

Muitos cachorros



Sempre tivemos muitos bichos de estimação. Eram gatos, cães, passarinhos, peixes, ramisters, coelho, cada um com suas manias e estórias. Conviviam respeitando os territórios, e nunca houve incidente grave entre as espécies. A única regra: não podiam entrar em casa, o espaço dos bichos era no quintal, acomodados dos respectivos ambientes adequados às necessidades de cada um. Lógico que algumas vezes trangrediam essa regra, para dar cria no guarda-roupas (a gata Diná) ou para fazer uma bagunça, mas no geral, sempre foram muito bem adestrados. Houve somente um período da história da família Martins sem bicho, após a morte do cão Ted.




Esse bicho, um vira-latas ruivo de porte médio sem grandes qualidades estéticas, foi meu cão de estimação dos meus 12 aos 30 anos de idade. Sim, ele viveu quase 18 anos, acompanhou algumas gerações de guapecas da casa e deixou seu DNA espalhado pelo bairro. Saudável? Nada! Era o cão dos sonhos de toda clínica veterinária, cheio de pereba e com longevidade. Vivíamos as idas e vindas do veterinário, era imã para carrapato, tinha infecções frequentes de ouvido, artrose, um cisto no rabo, problemas de próstata, mas era resistente o bicho. Estávamos nos preparando para a sua morte desde o seu 10º aniversário, aproximadamente. Quanto ao cisto no rabo, o veterinário acompanhava mas não queria operar, temendo que o bicho, já velho, não resistesse a anestesia. No entanto, lá pelo 16º ano, após semanas de internação e duas cirurgias, o cão volta para casa de rabo "cotoco" e com uma vitalidade incrível.




Além de tudo isso, a catalepsia: algumas vezes já foi dado como morto, parecia que não respirava, todo duro, não acordava nem com chaqualhão. Em uma ocasião, tinha até moscas nos olhos, a minha mãe foi cobrí-lo com um lençol, e já estavamos providenciando o "funeral", quando repentinamente "ressucita" e aparece como uma assombração na porta da sala. Daí o apelidamos de Lázaro, a quem Jesus ressucitou. Ele já carregava o apelido de Matusalém, porque vivia muitos anos. Ted Matusalém Lázaro.




Fora as preocupações com a saúde, o cão era amável e tranquilo, não muito brincalhão, mas fazia meia dúzia de truques e era um excelente cão de guarda. Eperava-nos sempre no portão de casa, e tinha ciúme de meus amigos, que quando nos visitavam, ele fazia questão de "demarcar seu território". A criançada do bairro era fã do bicho, e havia disputa para cuidar do cão quando tínhamos que viajar. Odiava banho. Ou preparávamos o banho sem que ele percebesse, ou podíamos esquecer, porque ele se escondia.




Esse cão chegou a mim quando eu era uma criança, acompanhou-me na passagem para adolescência e para a fase adulta. Mais da metade da minha vida, o cão estava lá. Quando ele morreu, eu disse que nunca mais queria outro cão, porque o apego aos bichos de estimação nos torna um tanto dependente deles. Mas casa sem cachorro não é a mesma coisa.




Pois bem! A falta do cão foi tão grande, que poucos meses depois minha mãe adota uma guapeca menor-abandonada, que é mais mimada que qualquer outro bicho que já tivemos lá em casa.






(Lilian Martins)








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